domingo, 9 de junho de 2013

Diálogos de Aninha com Paulo Freire - 2!




(...) E tenho outro texto, que também trata do diálogo e da pesquisa como um caminho investigativo que se faz na companhia de muita gente. Está publicado na Educar em Revista. Chama-se "Vamos fazer da nossa vida uma obra de arte?"
(...)
O endereço eletrônico é:


http://www.scielo.br/pdf/er/nspe2/10.pdf


Super beijo!
Aninha

terça-feira, 4 de junho de 2013

Diálogos de Aninha com Paulo Freire


Para que a educação seja humanizadora é necessário que haja o diálogo, tratado por Freire (1992, p. 43) como o 'encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o 'pronunciam', isto é, o transformam'...



... Dizem Ana Maria de Campos e Graziela Giusti Pachane dialogando com o Mestre.

Leia o texto

                   "DIÁLOGOS COM QUEM OUSA EDUCAR, EDUCANDO-SE:

                                            a formação de educadores a partir de uma experiência de Educação Popular",

na íntegra em:


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Diálogos de Marissol com Paulo Freire

Estamos sempre a aprender
Marissol Prezotto

Com Paulo Freire aprendi
Que ninguém ignora tudo
Ninguém sabe tudo
Aprendemos sempre juntos!
Mas sempre ignoramos algo
E, por isso, estamos sempre a aprender.

É no diálogo com o outro
É no diálogo com o outro
É no diálogo consigo mesmo
Que é possível aprender sempre juntos!

É na palavra que nos fazemos presente!
É no olhar cuidadoso para o trabalho que nos fazemos presente!
É na ação-reflexão que nos constituímos
e nos fazemos presente!

É na alegria da busca que encontramos
E revivemos o encontro
Que desperta diferentes saberes
E, por isso, estamos sempre a aprender.


terça-feira, 28 de maio de 2013

Diálogos de Rosaura com Paulo Freire

Campinas, maio de 2013.

Caríssimo Mestre Paulo Freire,

Diante do convite a escrever para o Seminário FALA outra ESCOLA sobre tua influência em minha formação, não resisti ao ímpeto de me dirigir diretamente a ti porque, ao reunir fragmentos de meus ‘encontros’ contigo, tomei consciência de que ela é muitíssimo maior do que eu imaginava.
Primeiro porque tu me ensinaste uma lição inclusora de outras tantas: que respostas para perguntas que não foram feitas são, por assim dizer, uma falta de juízo pedagógico.
Essa lição ancorou alguns pressupostos que orientaram minha prática profissional como professora, como coordenadora pedagógica, como formadora e como autora de material de subsídio para professores e material didático para alunos. E também, e talvez principalmente, minha militância na vida.
O primeiro pressuposto é que o destinatário de nossa ação, que se pretende formativa, é um sujeito constituído por sua história pessoal, que constrói seu próprio conhecimento e, portanto, nossas respostas bem intencionadas a perguntas inexistentes revelam um método autoritário, por mais éticos que sejam nossos propósitos.
Outro pressuposto é que, para conhecer o sujeito real que está diante de nós, é preciso tentar se pôr em seu lugar (apenas tentar, porque esse deslocamento, concretamente, é uma impossibilidade) e, para tanto, há que se ter um olhar sensível, uma escuta atenta e paciência suficiente.
Um terceiro é que, se as perguntas não existem conforme nós, educadores, esperamos, o desafio é gestá-las para que nasçam e se multipliquem de modo que nossas desejadas respostas passem então a ser respostas a necessidades que em princípio não existiam, mas passaram a existir para os sujeitos com os quais trabalhamos. "Partir da realidade", "considerar a história" e "valorizar os saberes" nada tem a ver com práticas espontaneístas e ausência de intervenção pedagógica.
E por fim, o quarto deles: por tudo isso, seja com os alunos na sala de aula ou com os profissionais nos espaços formativos, o "x" da equação pedagógica é quando problematizar e quando responder de pronto, ou, dito de outro modo, quando ajudar a construir soluções pessoais e quando informar diretamente.
Há muitas outras lições, evidentemente, mas destaquei estas aqui porque, até onde pode chegar minha consciência, elas são mais constitutivas da profissional que hoje sou.
E quero falar da enorme satisfação de poder me encontrar pessoalmente contigo várias vezes: uma na escola de pais em que fui coordenadora, numa tarde deliciosa, e outras tantas na Secretaria de Educação de São Paulo durante alguns anos – tu, secretário e eu, aprendiz de formadora.
Tive o privilégio de participar dos encontros que tu fazias com as equipes e dos diálogos que estes encontros sempre representaram. Tive a responsabilidade de compor a equipe que editou aquele vídeo em que tu falavas com todos professores das rede municipal de São Paulo e que foi passado em todas as escolas logo no início de tua gestão. Tive também a petulância de brigar bastante com certos ‘companheiros’ que, segundo eu mesma, não agiam de acordo com os princípios que tu sempre defendeste, e também eu. Quero que saibas que meus cabelos brancos começaram a teimar desde aí. Foram tempos ao mesmo tempo férteis e difíceis para mim. Porque o exercício do poder é uma prova inequívoca dos valores que de fato se tem, e não gostei do que vi em uns e outros com quem me desencantei eternamente.
Depois destas últimas lembranças, para mim bem tristes, fui dar uma espiada no youtube – é... agora temos este recurso que é um poderoso paliativo em certas circunstâncias. E qual não foi minha surpresa quando já logo de cara acho dois filmes mais ou menos breves (sim, porque contigo nenhuma conversa era breve!) de encontros em que estava eu lá te ouvindo, um deles justamente no núcleo onde eu trabalhava. Grata surpresa, Professor!
Ao assistir estes registros fui me dando conta de que talvez eu tenha aprendido mais te ouvindo do que te lendo... É certo que talvez eu já tivesse uma tendência a fazer falas e escritas mais ou menos irreverentes, atravessadas por histórias vividas e por algum humor, mas, pensando agora, acho mesmo que foi tu a me ‘autorizar’ a fazer essas graças, como acho que foi tu que me inspirou a falar publicamente de amor. O exercício desta escrita agora me fez desconfiar disso tudo – veja só que produtiva boniteza, como tu dirias, é esta brincadeira de escrever.
E, vejas que coisa... quando defendi minha dissertação de mestrado, foi uma surpresa e uma emoção ouvir de uma das docentes da banca que o meu estilo de escrita revela um grande cuidado com o leitor e uma amorosidade que ela reconhecia como semelhante à que se atravessa pelos teus escritos. Para mim, avaliação melhor impossível! Não bastasse isso, tempos depois, esta mesma docente me enviou o registro de uma aula dela na universidade em que comparava afirmações tuas e minhas. Mal pude crer, e de novo fiquei comovida. O fato é que em geral não percebemos certas marcas constitutivas de quem somos, como dizia teu amigo Darcy...
E já que estou falando do mestrado preciso te dizer que o registro da pesquisa foi feito na forma de cartas, que eu pretendia que fossem (e parecem que são mesmo) narrativas pedagógicas, tanto pelo conteúdo quanto pela forma. E também neste caso me inspirei em ti. Transcrevi inclusive o que disse o Alípio Casali, na capa de 'Pedagogia da Indignação', quando te cita: "fazia algum tempo que um propósito me inquietava: escrever umas cartas pedagógicas em estilo leve que pudesse recolocar a educação no espaço do coloquial e do afetivo e reencontrar o essencial da educação – o diálogo que compartilha e provoca". Quis fazer o mesmo e alguns dizem que consegui.
Além disso, claro, fiz várias citações tuas. Esta foi uma, e gosto muitíssimo:
A tarefa do ensinante, que é também aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar. ... É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico. É preciso ousar para dizer, cientificamente e não bla-bla-blantemente, que estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional. É preciso ousar para ficar ou permanecer ensinando por longo tempo nas condições que conhecemos, mal pagos, desrespeitados e resistindo ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É preciso ousar, aprender a ousar, para dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente. É preciso ousar para continuar quando às vezes se pode deixar de fazê-lo, com vantagens materiais. 

Neste período do mestrado, idos anos 2004 a 2007, Guilherme, meu orientador, e eu resolvemos publicar um livro de relatos de experiências de formação que tomavam a produção escrita dos professores como mote principal. Tanto que achamos oportuno chamar o livro de "Porque escrever é fazer história" (Editora Alínea). Inventamos um primeiro capítulo bem divertido, que é um colóquio dialógico de autores com os quais nos afinamos quando se trata da leitura e da escrita e que estariam supostamente conversando em uma mesa redonda. E lá, claro, estava tu, bem na frente, com tuas 'tiradas'. Eis algumas delas, que nos são caras:
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto, ou do objeto da curiosidade, a forma de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar ou buscar criar a compreensão. 
O ato de ler implica sempre percepção crítica, interpretação e reescrita do lido.
Enquanto leitores, não temos o direito de esperar, muito menos de exigir, que os escritores façam sua tarefa, a de escrever, e quase a nossa, a de compreender o escrito, explicando a cada passo o que quiseram dizer com isto ou aquilo. ... Ler não é tarefa para gente demasiado apressada ou pouco humilde.

Canção óbvia

Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto espero por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens.
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais;
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso esperar, na forma em que esperas,
porque esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.
(Genève, março de 1971)

Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura ... sem sonhar ... sem aprender, sem ensinar ... não é possível.

Tudo relevante e muito bonito também, que a boniteza sempre foi uma marca do teu discurso e dos teus atos.
Por fim, quero te dizer que amo especialmente (e uso a torto e direito) tua ideia de inéditos-viáveis: um modo de forjar na realidade algo de sonho e utopia que vai se tornando real por obra daqueles que não se intimidam diante de limites e dificuldades.
Por ora é isto o que desejei te dizer.
Saudações, com saudade infinita,

Rosaura Soligo

Almanaque Histórico

No Link abaixo você pode baixar o Almanaque Histórico 
Onde você encontra muitos os assuntos que encantava o mestre


sábado, 25 de maio de 2013

Diálogos de Wilson com Paulo Freire

Paulo Freire em minha pesquisa. (Parte I)
                              Wilson Queiroz

Retomei a leitura da minha dissertação de mestrado, defendida em fevereiro de 2012, De docência e militância: a formação de educadores étnicos num programa da Secretaria Municipal de Educação de Campinas – 2003 a 2007, orientado pela professora Corinta Geraldi, defendida no GEPEC – Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Continuada, em 27 de fevereiro de 2012.

Tentando apontar aonde o Paulo Freire, se faz presente nesta pesquisa, optei por encaminhar este cordel, que foi inspirado no livro Pedagogia da Autonomia. A partir daí a pergunta mudou de direção. Aonde Paulo Freire não está em minha pesquisa?

Cordel[i]: Pedagogia da Autonomia
Autor: Wilson Queiroz – 22/05/2010


Há dias estou pensando
Hoje comecei a escrever
Sobre educação e poesia
E agora vou lhes dizer
Que muito me desperta
O modo de Freire fazer
E agora sobre este livro
Um cordel quero escrever.

Pedagogia da autonomia
Escrito por Paulo Freire
Anuncia aos Educadores
Alguns importantes saberes
Para uma prática educativa
Para todos poderem ser
Educando responsáveis
Inclusive por outros seres.

Um livro pequeno e de bolso
Não fosse seu grande valor
Porém num bolso não cabe
Todo o seu denso teor
Aponta questões importantes
Para assunção da arte-professor.

Agora entendo bem mais
E por que acredito nele
Destaca de fio a pavio
Vinte e sete saberes
Que fala da prática da escola
E do educador com ele
Que acredita na educação
E aposta em todos os seres.

São vinte e sete saberes
Que me dispus a pensar
Em que bem posso fazê-lo
E em cordel apresentar
A obra deste mestre
Na arte do bem educar
Liberta a mente de todos
E propõe a sociedade mudar.

Relendo cada saber
Espero melhor estudar
O que diz o Paulo Freire
Sobre o ser modo de ensinar
Trazendo para o cordel
Uma forma de acessar
Um pouco do que entendi
E um convite para dialogar.

Dividido em três capítulos
Esta pequena obra está
No primeiro ele destaca
Que docência sem discência não há
O que nos impõe desde o inicio
Sobre os alunos sempre pensar.

Neste segundo capítulo
A questão do ensinamento
Ele destaca já no titulo
Que ensinar não pode ser
Transferência de conhecimento
O que nos convida a estar
Em permanente movimento.

No último capítulo propõe
A reflexão que não engana
A arte de poder ensinar
É uma especificidade humana
Por isso é preciso pensar
Em como o educador leciona.

Além dos três capítulos
Um destaque é preciso fazer
Ainda temos um prefácio
Que muito irá nos dizer
Logo em seguida algumas
Intitulada primeiras palavras
O mestre irá nos surpreender.

Pedagogia da Autonomia
Um livro que me convida
A pensar no Paulo Freire
E na Elza sua esposa querida
Que para muito ainda passa
Quase ou total desconhecida.
Só fui dela saber melhor
Depois de uma dissertação lida.

Começo falando de Elza
Sua esposa e colaboradora
Por que antes dela sabia
Ser apenas educadora
Agora num estudo entendi
Que também foi sonhadora
Junto com Paulo Freire semeou
Uma educação libertadora.

A pedagogia da autonomia
Proposta por Paulo Freire
Considerava os alunos
E o respeito aos seus saberes
Valorizando o que é simples
E todos os seus afazeres
Pensando numa educação
Com plenos direitos e deveres.

Educação era para Freire
Uma ação, um compromisso
E o professor na sua prática
Responderia por tudo isso
Na sua forma de pensar
De se fazer e de ser dito.

· RIGOROSIDADE METÓDICA


Em sua teoria da pedagogia
Paulo Freire então anuncia
Que três aspectos da educação
Requer que se tenha em dia
Sobre a importância do rigor
E da especificidade que anuncia
Ensinar é uma prática humana
E que para o homem tem valia
Porém ensinar não é transferir
E esta prática ele repudia.

Subdividida em várias partes
Esta pedagogia ele anuncia
Considerando alguns aspectos
E cada um ele também avalia
Considerando muitos dos aspectos
Que esta prática evidencia
Para construir uma educação
Que valorize a autonomia.


*Ensinar exige: Pesquisa-Respeito aos Saberes dos Educandos-Criticidade-Estética e Ética-Corporeificação das Palavras Pelo Exemplo-Risco-Aceitação do Novo e Rejeição a Qualquer Forma de Discriminação-Reflexão Crítica Sobre a Prática-O Reconhecimento e a Assunção da Identidade Cultural-Ensinar não é Transferir Conhecimento-Consciência do Inacabamento-O Reconhecimento de Ser Condicionado-Respeito à Autonomia do Ser Educando - Bom Senso-Humildade-Tolerância e luta em Defesa dos Direitos dos Educadores-Apreensão da Realidade-Alegria e Esperança-A Convicção de que a Mudança é Possível-Curiosidade-Ensinar é uma Especificidade Humana-Segurança-Competência Profissional e Generosidade-Comprometimento-Compreender que a Educação é uma Forma de Intervenção no Mundo-Liberdade e Autoridade-Tomada Consciente de Decisões- Saber Escutar-Reconhecer que a Educação é Ideológica-Disponibilidade para o Diálogo- Querer Bem os Educandos. 



[i] Referência Bibliográfica: Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1998. 168 p.

terça-feira, 30 de abril de 2013


Diálogos de Mafê com Paulo Freire

Maria Fernanda Pereira Buciano

BUCIANO, M.F.P. “Eu seguro sua mão na minha para fazermos juntos o que eu não posso fazer sozinha”:Narrativa e reflexões da experiência de uma professora no trabalho pedagógico construído em diálogo com seus alunos e alunas. 2012. 333f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Campinas, 2012

Partilho com vocês alguns trechos que destaquei de minha dissertação. Não resisti, fiz algumas "costuras" e li naquilo que escrevi marcas cheias de boniteza produzidas, ao mesmo tempo, pela presença de educador@s importantíssimos em minha história: Corinta Maria Grisólia Geraldi, Guilherme do Val Toledo Prado e Paulo Freire. Na minha história, três gepequianos!
 ...


...Cursava o último ano da Pedagogia, ingressava na FUMEC[1], começava a trabalhar... Nesse contexto, redigi o meu Trabalho de Conclusão de Curso, em formato de cartas endereçadas a Paulo Freire. Na escolha pelo texto narrativo produzi reflexões sobre minha prática docente nos dois primeiros anos da carreira. 

Campinas, setembro de 2001.
Querido professor Paulo Freire, 
É com muita emoção e carinho que escrevo esta carta. Preciso imaginar que talvez a receba um dia. Tem coisas que só você pode me responder, pois inicialmente as perguntas aqui colocadas também são/foram suas. São suas muitas das palavras que me alimentam e me movem. (...) Por que, por incrível que pareça, há algum tempo fiz a escolha consciente de caminhar ao teu lado... Hoje, preciso te sentir ao meu lado...
Bem, apresento-me. Aqui começo a apresentar, também você, na minha história...
Meu nome é Maria Fernanda, professora em formação na EMEF “Edson Luis Lima Souto” onde assumo este papel no exercício do trabalho docente e na Faculdade de Educação da UNICAMP, tendo curso de magistério em nível médio concluído em 1996. Esta carta tem a intenção de abrir um diálogo sincero com uma das pessoas também responsável por minha formação, aliás, não só pela minha, como também pela de muitos outros e outras profissionais da Educação. Sob tanta responsabilidade, tornou-se referência. Acredito que suas obras caberiam como parte da bibliografia de plano de curso de muitas disciplinas que compõem a formação institucional de professores.
Infelizmente este não foi o caso do meu curso de formação superior. Conheci você, Paulo Freire, no curso de magistério, em Santos (cidade onde nasci e cresci até os 18 anos), graças às professoras apaixonadas por seu trabalho, duas delas ex-alunas suas. Em torno do ano de 1996, li “O que é método Paulo Freire”, escrito por Carlos Rodrigues Brandão. 
Na faculdade de Educação da Unicamp, li “Pedagogia do Oprimido” logo no primeiro semestre, não acredito que tenha sido o melhor momento, muito menos a melhor forma de trabalhar com o conteúdo que nos oferece: fiz uma resenha desta obra e entreguei. Mas lembro de ter sido uma das primeiras e poucas obras completas que li em minha formação acadêmica. Em 1999, na disciplina de Prática de Ensino, a professora Corinta Geraldi, sua amiga e colega de trabalho no tempo em que foi docente da UNICAMP, retomou seu nome e obra, ao lado de Freinet e Pistrak (educador russo). Eu escolhi conhecer Pistrak, já que nunca tinha ouvido falar, e vindo como recomendação da Corinta, já imaginava que fosse um outro possível educador significativo para minha formação. Então, naquele momento, não li suas obras, mas participei de discussões sobre estas, com as intervenções da profa. Corinta contando detalhes sobre sua passagem pela UNICAMP. Ainda em 1999, ainda aluna da Corinta, em Metodologia de Pesquisa no Ensino Fundamental, li “Extensão ou Comunicação”... (...)Em 2000, na disciplina de Estágio Supervisionado II, li “Pedagogia da Autonomia”, na época era aluna, pelo segundo semestre consecutivo, do professor Guilherme do Val. Toledo Prado (nossa! Agora pensando... não foi seu aluno?), que me orienta até hoje, acompanhando, então, todas as crises com a Mafê (assim me chamam por aqui) professora, desde a época em que era estagiária e tinha arrepios com essa ideia... 
Achei pouco “Paulo Freire” no meu curso de pedagogia, como disse anteriormente, seu conteúdo caberia em qualquer disciplina, já que a VIDA cabe em qualquer lugar. Como disse professor Ernani Maria Fiori em suas primeiras palavras, prefaciando a 23a. reimpressão de “Pedagogia do Oprimido”: “Paulo Freire é um pensador comprometido com a vida: não pensa ideias, pensa a existência”... Vejo Paulo Freire conciliando lugares como academia e movimentos sociais de base, também escreveu História, levando consigo outras pessoas à conscientemente escrevê-la e fazê-la. Por considerar-se um ser humano inacabado, dizia-se “sendo” historicamente, assumindo assim sua responsabilidade ética na assunção de suas crenças religiosas e político-partidárias. “Inteiro”, Paulo Freire registrou saberes constituídos de consciência e emoção. 
Estou sempre brincando com amigos e amigas da faculdade sobre o meu desejo de que estivesse vivo, daria tudo para que me acompanhasse até a minha sala de aula. Gostaria de ver como responderia aos meus alunos como Seu Sebastião, e alunas como dona Margareti, tantas questões... 



Nessa carta ‘endereçada’ a Paulo Freire, escrevia também para mim. 
(...) Nas cartas que escrevi, como meu texto apresentado na Conclusão do Curso de Pedagogia, apresentei ‘a Paulo Freire’ alguns porquês de escolhê-lo como meu principal interlocutor. A presença do mestre Freire mistura-se a presença de professores do GEPEC em minha vida. Mesmo uma das professoras que me apresentou obras de Paulo Freire no magistério tinha sido aluna da profa. Corinta e colega de curso de pedagogia do prof. Guilherme. 
Em 2009, ingresso no curso de mestrado na FE – UNICAMP, sob orientação do professor Guilherme do Val Toledo Prado. Todo meu trabalho de pesquisa como professora foi acompanhado por leituras e releituras das obras de Paulo Freire. A produção de uma narrativa durante o processo investigativo do mestrado não foi diferente. Mais uma vez, o mestre me desafiou a procurar coerência entre o que faço e defendo, cotidinamente, na escola. 
Em diálogo com Freire e outros autores do campo da Educação Popular, discuto meu próprio processo de pesquisa, sua inserção neste campo(...)

Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objeto da reflexão crítica deveria fazer parte da aventura docente. A razão ética da abertura, seu fundamento político, sua referência pedagógica; a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude (FREIRE, 1996, p.153). 
A professora Corinta explicita a defesa que o Gepec faz no mesmo sentido, colocando o registro e o estudo sobre a prática como esta possibilidade de abertura ao outro... 
Acreditamos que registrando histórias, vamos delineando (e complexificando) os significados que perpassam a constituição da professora como pesquisadora (GERALDI, C.M.G. 2006, p. 182). 
Registro produzido por aluno meu em 2010.
 Acervo pessoal.
Além das perguntas que mobilizaram a investigação que realizei no mestrado, foi/é necessário perguntar para quê busquei respostas às perguntas. Para quê discutir dialogicidade em sala de aula? 
Com as perguntas em nossas mãos escrevemos também nossa história. Essa que fazemos diariamente e aquela que escreveremos em defesa da primeira usando papel, lápis ou computador se preciso for! 
A escrita buscava respostas, gerava novas perguntas. No livro “Porque escrever é fazer história”(2005, p. 37) os professores Guilherme e Rosaura ‘me dizem’... 
Ora, se escrever é assim tão trabalhoso, as razões para fazê-lo devem ser suficientemente fortes para nos seduzir, para nos convencer, para nos arrastar, para nos dar a certeza de que vale a pena.(...) O fato é que a experiência de escrever – e de ler- nos pode fazer melhores, muito melhores. 
Escrevi História, fazendo-a na lida e no registro desta! Escrevi História em diálogo com o mestre Freire. E feliz vejo que produzo em mim efeitos que quero produzir em meus alunos e alunas: com as mãos cheias de perguntas reescrevo caminhos da minha história como professora, buscando outras ‘rotas’, outros encontros para aumentarmos territórios compartilhados na construção de uma sociedade mais justa e solidária. 
Este é o motivo pelo qual trabalho em uma escola pública! Este é o motivo que me levou e me leva a fazer pesquisa! Este motivo é alimentado pelos princípios freireanos mobilizados em grupo pelo GEPEC, em seus encontros, em cada conversa com o professor Guilherme... 
Hoje realizo a travessia neste ‘mar’ que chamamos cotidiano escolar, acompanhada por outros autores e autoras de práticas, pesquisa, livros e militância. 
Com alguns tenho o privilégio do convívio ‘em carne e osso’ ... Por meio das palavras de Paulo Freire, muitas vezes traduzidas por professoras que continuam em diálogo com o mestre, que sigo aprendendo sobre as possibilidades de se fazer Educação Popular, na escola pública, alfabetizando crianças! 


Referências:
BUCIANO, Ma. Fernanda P. Para: Paulo Freire, De: Professora em formação - Sala de Programa de Educação Básica 1. Fundação Municipal para Educação Comunitária.(FUMEC) - Campinas, SP, Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia – FE -UNICAMP, sob orientação da Profa. Dra. Lise Roy e do Prof. Dr. Guilherme do Val Toledo Prado, 2001.(mimeo)

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GERALDI, Corinta Maria Grisolia. Desafios da pesquisa no cotidiano da/na escola. In: GARCIA, Regina Leite et al. Cotidiano e diferentes saberes. Rio de Janeiro: Dp&a, 2006. p. 181-222.

PRADO, G.V.T. e SOLIGO, R. Porque escrever é fazer história – Revelações, subversões, superações. Campinas.S.P.: Graf.FE, 2005.


[1] Fundação Municipal para Educação Comunitária, destinada à Educação de Jovens e Adultos, de 1a. à 4a. série.

"Nosso grande desafio..."


O nosso grande desafio [...] não era só o alarmante índice de analfabetismo e a sua superação. [...] O problema para nós prosseguia e transcendia a superação do analfabetismo e se situava na necessidade de superarmos também a nossa inexperiência democrática. Ou tentarmos simultaneamente as duas coisas.
Não seria, porém, com essa educação desvinculada da vida, centrada na palavra, em que é altamente rica, mas na palavra “milagrosamente” esvaziada da realidade que deveria representar, pobre de atividades com que o educando ganhe a experiência do fazer, que desenvolveríamos no brasileiro a criticidade de sua consciência, indispensável à nossa democratização.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p.94

"Paulo Freire em curso de Capacitação", Autor: desconhecido. Ano de Publicação: 1963. Descrição: Informações extraídas do livro “Paulo Freire: uma biobibliografia".Cobertura geográfica: Angicos (RN) URI:http://acervo.paulofreire.org/xmlui/handle/7891/497

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Diálogos de Zezé com Paulo Freire

Zezé dialoga com o mestre, trazendo de seus palavras preciosidades como esta:


Freire (2005, p.18) adverte-nos “que não pretende ser método de ensino, mas sim de aprendizagem, com ele, o homem não cria sua possibilidade de ser livre, mas aprende a efetivá-la e exercê-la”, pois é uma pedagogia que “aceita a sugestão da antropologia: impõe-se pensar e viver a educação como prática da liberdade” conscientiza e politiza. “Não absorve o político no pedagógico, mas também não põe inimizade entre educação e política”, pois sabe que a educação sozinha não decide. Acredita que

[...] a cultura letrada não é invenção caprichosa do espírito; surge no momento em que a cultura, como. reflexão de si mesma, consegue dizer-se a si mesma, de maneira definida, clara e permanente. A cultura marca o aparecimento do homem no largo processo da evolução cósmica. A essência humana exitencia-se, autodesvelando-se como história. Mas essa consciência histórica, objetivando-se reflexivamente, surpreende-se a si mesma, passa a dizer-se, torna-se consciência historiadora: o homem é levado a escrever a sua história. (FREIRE, 2005, p.18-19)
Leia mais...
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: DIÁLOGOS PROVOCADOR-LIBERTADORES
                                                                      Maria José de Oliveira Nascimento




Paulo Freire em homenagem na escola José Rufino, Angicos (RN), 1993. Autor da imagem: desconhecido. Imagem disponível em :<http://acervo.paulofreire.org/xmlui/handle/7891/265>. Acesso em 18 de abril de 2013.


Diálogos de Natalina com Paulo Freire


 Maria Natalina de Oliveira Farias

Fragmentos muito importantes a época da escrita da minha dissertação a respeito do nosso mestre e sua influência na minha vida.

Farias, Mª Natalina de Oliveira. TRAVESSIA DA PRÁTICA DOCENTE: PAISAGENS QUE CONSTITUÍRAM A
FORMAÇÃO E O TRABALHO NUMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL. Dissertação de Mestrado. FE/Unicamp. 2006. págs.11, 12 e 13.

"A minha formação em Pedagogia, na PUC-Campinas, só reforçou o propósito e a escolha que havia feito. Foi apresentado um sujeito, um educador que me encantou imediatamente: Paulo Freire.

Em Pedagogia do Oprimido (1987) e na Educação como Prática da Liberdade (1989), conheci os fundamentos e o pensamento desse autor. Li e entendi que a sua convicção era no homem como um ser de diálogo constituído pela palavra. Para Freire (1989) existir
humanamente é pronunciar o mundo, é modificá-lo. Não é no silêncio que os homens se fazem, é no encontro. O diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens. Uma exigência existencial. Portanto, o diálogo é um dos
pilares da pedagogia libertadora de Paulo Freire. O diálogo como posição diante da vida e do mundo, e dialogando com o mundo para entendê-lo e re-interpretá-lo estaria passando pelo processo de conscientização.

Segundo ele, a conscientização ocorre quando o oprimido chega à convicção da luta pela transformação social como sujeitos, não como objetos. E assim essa luta começa pelo auto-reconhecimento de homens que são e oprimidos que são. Por isso, para Paulo Freire, participação é engajamento.

O silêncio da outra parte é a denúncia viva do escândalo que é um povo silenciado, marginalizado e imerso na passividade. Outra condição para o diálogo é que ninguém, numa sociedade que diz ser democrática, seja excluído ou posto à margem da vida social. Ou seja, uma educação como prática da liberdade será possível quando se realizar numa sociedade onde existem condições econômicas, sociais e políticas de uma existência em liberdade.
 (...)
  A literatura mais marcante na minha formação acadêmica foi a literatura e o ideário freireano. A compreensão de que o professor também é sujeito que se constitui nas relações e interações com o outro possibilitava repensar os lugares de “aluna” e de professora que pretendia e que estava me propondo ser. Como diz FREIRE (1997 p. 16): Mulheres e homens somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (...)

Diálogos de Glória com Paulo Freire


Paulo Freire  & e-Boa

Glória Pereira da Cunha

Retalhos de  Sonoridades do sul : ausências, emergências, traduções e encantaria na educação. (2010)
Dissertação (Mestrado em educação) – GEPEC / Faculdade de Educação da Unicamp. Orientadora: Corinta Maria Grisolia Geraldi.

Pesquiso minha pesquisa à procura de encontros com Paulo Freire.
Ele está nos mais variados lugares até mesmo para apresentar, na página 165, o Grupo de Terça do GEPEC:
A palavra nos (a)trai e gostamos de contar paulofreireanamente uns aos outros as descobertas, anunciando em escritos as novidades porque
                                                      a escrita permite se conhecer melhor
                                                      a escrita permite se dar a conhecer aos outros
                                                      escrever é fazer história!

E sabemos com Paulo Freire que “estar no mundo necessariamente significa estar com o mundo e com os outros [ e] estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura [...], sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível.”[i]

Nos alinhamos com Paulo Freire.
Nos caminhamos com a certeza de que através destas trocas de escritos, nossos e alheios, o GEPEC provoca o movimento da esperançosa busca que nos ensina o mestre:
A matriz da esperança é a mesma da educabilidade do ser humano: o inacabamento de seu ser de que se tornou consciente. Seria uma agressiva contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano não se inserisse num permanente processo de esperançosa busca. Este processo é a educação. Mas precisamente porque nos achamos submetidos a um sem-número de limitações – obstáculos difíceis de ser superados, influências dominantes de concepções fatalistas da História, o poder da ideologia neoliberal, cuja ética perversa se funda nas leis do mercado – nunca, talvez, tenhamos tido mais necessidade de sublinhar, na prática educativa, o sentido da esperança do que hoje.  Daí que, entre saberes vários fundamentais à prática de educadores e educadoras, não importa se progressistas ou conservadores, se salienta o seguinte: mudar é difícil, mas é possível[ii]

Também é Paulo Freire quem me ajuda para falar dos caminhos do professor e do pesquisador como um só caminho e não um cruzamento, como uma sobreposição de atividades.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino[iii]. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.[iv]
Na minha dissertação, os textos de Boaventura de Sousa Santos, principalmente o Sociologia das ausências[v], são minha cartografia básica e neles encontrava idéias sobre educação que me lembravam as de Paulo Freire. Será que eles se conheceram, me perguntava?
Eu li, naturalmente, como todos, o Paulo Freire, nunca tive ocasião de privar com ele, apesar de que, numa fase final, quase estivemos juntos, e penso que todos nós acabamos por ser influenciados por muitos de seus ensinamentos. Talvez seja isso que ressoa nos meus escritos porque é muito virado ao meu futuro, é muito virado para a juventude, é muito virado para a criação de novos paradigmas e para as chamadas subjetividades paradigmáticas. Eu penso que a educação devia ser uma criação constante de subjetividades paradigmáticas, porque, para criar subjetividades sub-paradigmáticas, não é preciso escola para coisa nenhuma; para isso basta deixar andar as crianças por aí, aprendem mais fora das escolas do que nas escolas, até porque, na escola têm que desaprender muitas coisas.[vi]
Em alguns diálogos com e-Boa[vii] , uso as falas de Paulo Freire cruzando incerteza e inconclusão, possibilidades de mudar o mundo que não é, só está sendo.

[18:33:09] e-Boa — O que conhecemos do real é a nossa intervenção nele e a sua resistência. Esta resistência faz com que a certificação das consequências do conhecimento fique sempre aquém da sua total previsibilidade. É por isso que as acções científicas tendem a ser mais científicas que as suas consequências. É por isso também que os novos conhecimentos geram novos desconhecimentos, aí residindo a sua incontornável incerteza[viii]

[18:33:14] gloria — isto me lembra Paulo Freire e suas sabedorias sobre a inconclusão que estão no Pedagogia da Autonomia: “É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornam educáveis na medida que se reconhecem inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade”[ix]. Incompletos somos, e incompleto, o que fazemos, o que pesquisamos, nossas certezas. E ainda, no mesmo livro, ele diz que “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo. E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas.” [x]        […]
[18:33:40] gloria — E, de novo, Paulo Freire: “Gosto de ser homem, de ser gente, porque sei que a minha passagem pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que meu ̳destino não é um dado mas algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade não posso me eximir. Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo.” [xi]

[18:33:41] e-Boa — A possibilidade é o movimento do mundo.

[18:33:42] gloria — é ... eu me lembrei que você havia me falado disto quando explicou sobre a sociologia das emergências.

[18:33:43] e-Boa — A sociologia das emergências é a investigação das alternativas que cabem no horizonte das possibilidades concretas.

[18:33:45] gloria — a sociologia das ausências vai ampliar o presente juntando ao conhecido, ao real existente, o que foi silenciado, o real inexistido, e a sociologia das emergências?

[18:33:46] e-Boa — a sociologia das emergências amplia o presente, juntando ao real amplo as possibilidades e expectativas futuras que ele comporta. Neste último caso, a ampliação do presente implica a contracção do futuro, na medida em que o Ainda-Não, longe de ser um futuro vazio e infinito, é um futuro concreto, sempre incerto e sempre em perigo.

[18:33:47] gloria — E por ser o futuro incerto e em perigo é preciso aprender a transformar a realidade, intervir, não ver com passividade o presente e nisso a educação tem um papel importante. Paulo Freire diz que ensinar “exige a apreensão da realidade” e que “temos capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando- a” […]

[18:33:49] e-Boa — acho que a educação, se ela se limitar a reduzir a realidade ao que existe, ela vai ser a grande projetora do conformismo. E o grande problema dos sistemas educativos nacionais foi que, exatamente, reduziram a realidade ao que existe. E nós não podemos fazer isso precisamente porque hoje há muita realidade que é desperdiçada, muita experiência que é desperdiçada; exatamente porque há realidades que são ativamente produzidas para não existirem, para serem desqualificadas ou porque são ignorantes. [...] E é exatamente o grande desafio que eu penso que a educação tem: é, realmente, ver como é que hoje, na nossa sociedade, a gente produz duas grandes realidades que não existem e que são fundamentais: uma é aquilo que eu chamo de a "sociologia das ausências", é esta ausência, a ausência do discriminado, a ausência do inferior, a ausência do residual, a ausência do atrasado, e poderíamos falar de milhões de pessoas. E é preciso trazer essa ausência, digamos assim, torná-la presente, transformar essa ausência numa carência e, portanto, em um desejo de preenchimento. [...][xii]

[18:34:04] gloria — De novo Paulo Freire com Pedagogia da autonomia, um livro que em muito momentos, é de pura poesia e, em outros, é manifesto: “Tenho o direito de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga tal qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como motivação de minha briga, porque, histórico, vivo a História como tempo de possibilidades e não de determinação. Se a realidade fosse assim porque estivesse dito que assim teria de ser, não haveria sequer por que ter raiva. Meu direito à raiva pressupõe que, na experiência histórica da qual participo, o amanhã não é algo pré-dado, mas um desafio, um problema.[xiii] Adoro esse inconformismo dele sintetizado em “O mundo não é. Esta sendo”.

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Boaventura define o mestre Paulo Freire: grande educador brasileiro, que se preocupava com uma educação conscientizadora e libertadora, é uma pedagogia nova[...][xiv] [...] o mestre de todos [ na luta contra a doutrinação e na luta por uma escola de cidadania ] naturalmente, continua a ser Paulo Freire [ ...]ele, realmente, foi uma luz para o mundo. [xv]


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[i][i] FREIRE, Paulo (1998). FREIRE, Paulo. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. Disponível em http://www.letras.ufmg.br/espanhol/pdf%5Cpedagogia_da_autonomia_- _paulofreire.pdf. Acesso em 4 de julho de 2010, p.34.
[ii] FREIRE, Paulo (1996). Educação e esperança. In: Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo, SP: Unesp, 2000. Disponível em http://portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/livros/Pedagogia_da_Indigna%C3%A7%C3%A3o. pdf. Acesso em 25 de junho de 2010.
[iii] Nota de rodapé do texto de Paulo Freire: “Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescenta à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba, se assuma, porque professor, como pesquisador.”
[iv] FREIRE, Paulo (1998). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p.36.
[v] SANTOS, Boaventura de Sousa (2002). Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista crítica de ciencias sociais, ISSN 0254-1106, No. 63, 2002 (Exemplar dedicado a: Globalizaçao : fatalidade ou utopia?), pp. 237-280. Disponível em www.ces.uc.pt/bss/documentos/sociologia_das_ausencias.pdf. Acesso em 31 de maio de 2010.
[vi] SANTOS, Boaventura de Sousa. (2003). Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo e conhecimento. Entrevista para GANDIN, Luís Armando, HIPÓLITO, Álvaro Moreira. Currículo sem Fronteiras, v3, n.2, p.5-23, Jul/Dez 2003. Disponível em http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss2articles/boaventura.pdf. Acesso em 15 de maio de 2009, p.21 e 22
[vii] Sobre e-Boa: Quem é ele? e-Boa é o heterônimo que soma as palavras disponibilizadas na Internet atribuídas a Boaventura de Sousa Santos, com sua aprovação ou à sua revelia, até 31 de dezembro de 2008; entrevistas, artigos de revista, capítulos de livros, palestras, textos de suas polêmicas e seus todos os escritos vadios, poemas e contos, foram costuradas e bordadas por mim na dissertação Sonoridades do Sul.
[viii] Todas das falas de e-Boa deste diálogo estão em Prezados professores. In: A página da educação, Edição 112, maio de 2002. Disponível em http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=112&doc=8798&mid=2 . Acesso em 25 de abril de 2010.  Considerei importante citar esse texto quase na íntegra por ser destinada exatamente aos professores e trazer, numa linguagem bem acessível e clara, alguns temas com os quais frequentemente nos confrontamos. Sempre que as palavras do e-Boa forem de outro lugar, isto está especificado.
[ix] FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p.34.
[x] FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p.15.
[xi] FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p.30.
[xii] SANTOS, Boaventura de Sousa. (2002). Entrevista para o programa Roda Viva, p.13.
[xiii] FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p. 16.
[xiv] SANTOS, Boaventura de Sousa(2002). (2002d). In: Roda viva. TV Cultura, São Paulo, SP. Disponível em http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/259/entrevistados/boaventura_de_souza_santos_2002.htm. Acesso em 15 de maio de 2009, p.8.
[xv] SANTOS, Boaventura de Sousa (2003). Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo e conhecimento, p. 20.